É perfeitamente cabível a
afirmação de que quando temos um grupo já consolidado e merecidamente
reconhecido no cenário mundial, isso lhe dá certo aval para experimentar
algumas sonoridades que não necessariamente fariam se não tivessem obtido essa
"primeira fama". A estritamente orquestra à luz elétrica de Roy Wood,
Bev Bevan e Jeff Lynne, desde seu debut em 1972 havia incorporado muita pouca
coisa ao som, além da "inovação" de unir instrumentos como violino e
violoncelo aos tradicionais elétricos, produzindo a princípio nas palavras de
Bev Bevan algo como um desastre acústico. Entradas e saídas marcariam a banda
desde o início: a perda na queda de braço tirou Wood do grupo, deixando para
Lynne os manetes para conduzir a banda, que em três anos incorporaria ao seu
elenco de "empregados" Melvyn Gale, Mik Kaminski e Kelly Groucutt,
para cumprir as ausências do cellista Mike Edwards (que se converteu ao
budismo), do violinista Wilfred Gibson e do baixista Mike de Albuquerque
(abandonando o grupo em 1974 para acompanhar a gravidez da esposa). A partir de
1975, no lançamento do seu até então álbum mais comercial, o "Face The
Music", ajudado fortemente pelas harmonias construídas com Groucutt, os
"filhos dos Beatles", (como Lennon já os chamou uma vez) tinham um desafio:
o lançamento seguinte serviria para a banda como um rito de passagem à novas
sonoridades que explodiriam a partir do ano de 1977.
Para o novo
trabalho, pela primeira vez em toda a curta carreira da ELO, não foram
efetuadas nenhuma alteração no seu
lineup, que seguia com Lynne na guitarra e vocais, Bevan nas baquetas, Tandy
nas teclas, Groucutt harmonizando e no baixo, Melvyn e McDowell nos cellos e
Kaminski no violino. Essa nova formação, capitaneados por mais uma produção de
Jeff Lynne, teriam como objetivo não desprender-se muito da sonoridade da
primeira fase da banda, mesmo puxando mais do que no álbum anterior para o lado
comercial. Uma curiosidade é que foi justamente na capa de "A New World
Record" que apareceria pela primeira vez o logo criado por John Kosh (que
já havia trabalhado com Rod Stewart, The Who, Badfinger e Beatles) que a banda
carregaria por toda a sua trajetória. O estúdio que foi usado para a gravação
seria novamente o Musiclands Studios, em Munique, também usado em 1975. Uma
característica básica que dividiria os dois trabalhos seria que enquanto Face
The Music trabalhava no rock progressivo e sinfônico, o atual seria mais
voltado para o rock mais direto, intercalado com as baladas, e não perdendo a
característica do trio de cordas.
Dos cinco álbuns
até então gravados, esse é o que fecha a sequência dos que possuem uma
introdução instrumental (overture), no caso com "Tightrope", que
ainda sim é um tanto puxada para o lado do rock sinfônico. A atmosfera de
"Mission (A World Record)" cairia perfeitamente no lançamento de
1975, bem como no ramo das harmonias vocais de Lynne/Groucutt a sétima faixa,
"Above The Clouds". O lado mais comercial do grupo, com faixas que
espalharam mais admiradores ao redor do mundo, e que basicamente seguia a onda
da disco music e do funk a um estilo bem particular ocorreu em "So
Fine", as baladas "Telephone Line", que viraria "Sacreé
Chanson" nos vocais de François, se tornaria o primeiro single-ouro da
carreira, a sexta faixa "Livin' Thing", com uma introdução solo de
Kaminski e a clássica forma de balada com um refrão bastante harmonizado por
Jeff e Kelly, além da subestimada "Shangri-la", que chega a mencionar
uma das paixões musicais de Lynne nos versos: "My Shangri-la has gonna away/fading
like the Beatles on Hey Jude". "Rockaria", com seus vocais
operísticos na introdução (cantados em alemão) executados em estúdio por Mary
Thomas e ao vivo por Kelly é outra canção com a pegada mais rock, citando uma
mulher apaixonada por música clássica e por seus ídolos Wagner, Beethoven,
Pucini e Verdi, que encontra um rapaz que pretende lhe mostrar o rock'n'roll.
Do Ya, escrita anos antes e já gravada por inúmeros artistas, com destaque para
o guitarrista do KISS, Ace Frehley, foi escrita por Lynne em 71 e creditada em
um compacto do embrião do ELO, o The Move, a letra remete a um cara que já
sentiu e viveu as situações mais diversas possíveis, mas que nunca sentiu nada
como a pretendente. Esse rock, com um riff marcante de guitarra, é junto com
"Ma-Ma-Ma Belle" do terceiro álbum da Electric Light Orchestra, as
maiores investidas até então do grupo no campo de agitar o público e ter seus
riffs entoados pelos fãs.
A gravação,
ocorrida em julho de 76 resultou no lançamento da obra nos dias 11 e 12 de
setembro do mesmo ano, primeiramente no Reino Unido e depois nos Estados Unidos
e teve uma recepção muito favorável pelo público, com 5 milhões de discos
vendidos no primeiro ano do álbum, empurrando-o para a sexta posição no Reino
Unido e a quinta na Billboard 200 e lançando singles como "Telephone
Line", "Do Ya" e "Livin' Thing" que alcançariam
respectivamente 7, 13 e 24 posição nos charts do Tio Sam, elevando o grupo ao
staff de um dos mais rentáveis grupos de rock do mundo. Lynne afirmou um novo
patamar em suas composições, que vinham rapidamente à mente, processo esse que
durou três ou quatro anos, momento que coincidiu com a época mais promissora
dos hits que a banda possuiu. Enfim, o último passo rumo aos trabalhos que
atingiriam públicos à nível mundial foi dado em grande estilo.
- Avaliação:
- Ficha Técnica:
Gravadora: | Jet Records |
Lançamento: | 1976 |
Gênero: | Rock, Pop, Rock Sinfônico |
- Faixas:
A1) Tightrope | Compositor: Jeff Lynne | 5:03 |
A2) Telephone Line | Compositor: Jeff Lynne | 4:38 |
A3) Rockaria | Compositor: Jeff Lynne | 3:12 |
A4) Mission (A World Record) | Compositor: Jeff Lynne | 4:25 |
B1) So Fine | Compositor: Jeff Lynne | 3:54 |
B2) Livin' Thing | Compositor: Jeff Lynne | 3:31 |
B3) Above The Clouds | Compositor: Jeff Lynne | 2:16 |
B4) Do Ya | Compositor: Jeff Lynne | 3:43 |
B5) Shangri-La | Compositor: Jeff Lynne | 5:42 |
- Créditos:
Vocais: | Jeff Lynne |
Vocais Operísticos: | Mary Thomas (3) |
Vocais de Apoio: | Bev Bevan, Jeff Lynne, Kelly Groucutt e Richard Tandy |
Baixo: |
Kelly Groucutt
|
Guitarra: | Jeff Lynne e Richard Tandy |
Violões: | Jeff Lynne e Kelly Groucutt |
Slide Guitar: | Jeff Lynne |
Bateria: | Bev Bevan |
Bateria eletrônica: | Bev Bevan |
Percussão: | Bev Bevan, Jeff Lynne, Kelly Groucutt e Richard Tandy |
Cellos: | Melvyn Gale e Hugh McDowell |
Piano: | Richard Tandy |
Piano Elétrico: | Jeff Lynne e Richard Tandy |
Sintetizadores: | Richard Tandy |
Piano de Cauda: | Richard Tandy |
Clavinete: | Richard Tandy |
Violino: | Mik Kaminski |
Arranjos: | Jeff Lynne, Louis Clark e Richard Tandy |
Engenheiros: | Dick Plant, Duane Richards, John Richards e Mack |
Produtor: | Jeff Lynne |
- Gravado no Musiclands Studios, Munique, Alemanha, julho de 1976
- Vídeos:
Rockaria |
So Fine |
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