segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ivan Lins - Modo Livre (1974)

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                Assim como uma grande parcela dos talentos que o Brasil produzia no conturbado final dos anos 60 através dos festivais, Ivan Lins fez-se tomar conhecimento das grandes plateias país a fora. Pianista desde os dezoito anos e dualizando o emergente talento à engenharia química por opção de graduação, possui seu primeiro sucesso na segunda colocação do Festival Internacional da Canção, com a faixa "O Amor é o meu país". A composição de "Madalena", que ganharia fama nos vocais de Elis Regina ilustrariam a nível nacional a carreira - ainda que curta - do cantor. Sob a produção de Paulinho Tapajós, lança seus três primeiros álbuns sob o selo Phillips, que cronologicamente marcou um amadurecimento e abertura popular da sonoridade de Lins, que em 1972, no lançamento "Quem sou eu ?" já apresentava uma roupagem que bastante lembrava a sonoridade de Elton John (do mesmo período). Foi nessa guinada com mudanças na produção e no estilo técnico que marcariam o quarto lançamento e até então o mais popular de sua carreira.
                Uma primeira mudança que ordenaria o trabalho seria o novo cargo de produtor, de Tapajós para o produtor Raymundo Bittencourt (que chegou a trabalhar com "a intérprete favorita de Vinícius", Maria Creuza). A troca se selo, da Phillips para a RCA-Victor seria a segunda pista de um lançamento que teria ambição a nível nacional. Entre os vários músicos que participaram do projeto, destaques para o trio do Som Imaginário: Robertinho Silva, Luiz Alves e Wagner Tiso, o “fliscornista” Márcio Montarroyos, os grupos vocais Quarteto em Cy e MPB-4, além do rodado arranjador Arthur Verocai. Ademais, "Modo Livre" reuniria pela primeira vez a parceria Ivan Lins e Vitor Martins, que assinariam uma faixa.
                Nesse lançamento em específico, com um viés mais popular, Ivan adota uma sonoridade que é enriquecida por um excelente trabalho de percussão e metais, construindo toda sua musicalidade com base no samba, a citar "Rei do Carnaval", "Não tem Perdão" e mais puxado para a parte da harmonia vocal do excelente MPB-4, "Tens (Calmaria)", que por sua vez encerra-se com um belo solo de fliscorne na participação de Montarroyos. A interpretação de um sucesso de Caetano Veloso, "Avarandado", contrapõe a sonoridade mais explícita para a levada MPB com bastante equilíbrio entre os vocais (quase falseteados) de Ivan com as teclas, que em estrutura seria retomada no lado B por "Desejo". O carro-chefe do álbum vêm do início da grande dupla Lins/Martins, com o maior sucesso do álbum, "Abre Alas", que dentro da interpretação, pode ser vista como um retrato da contracultura face as políticas vigentes ("apare os teus sonhos que a vida tem dono e ela vem te cobrar") e reafirmando sempre nos coros a proximidade das mudanças "abre alas para a minha folia/já está chegando a hora". A temática de alívio/liberdade é vista com mais intensidade nos versos e coros imponentes de "Deixa eu dizer" e "Chega", sendo essa última auxiliada por um belo solo de metais e orquestração, que se têm sequência no grande trabalho de Verocai em "Espero". O samba é retomado na excelente junção entre piano elétrico, a flauta e a sempre entrosada cozinha entre Luiz Alves e Robertinho na faixa "Essa Maré", que por sua vez diversifica o rumo do trabalho mais para as relações amorosas. A conclusão do trabalho reforça a coesão tida nas faixas anteriores em um Pot-Pourri ao ritmo de antigos carnavais como "General da Banda/A Fonte Secou/Recordar é Viver". De forma geral, "Modo Livre" é um coro ao sentimento de liberdade e fuga das pressões e insatisfações que rodeiam a vida de qualquer pessoa. Em tempo, essa visão (que é sustentada pelas excelentes letras compostas nas parcerias) pode ser expandida ao contexto social, que amplia as noções da música em relação aos anos mais complicados da transição Médici/Geisel e sua verdadeira delimitação ao território criativo que pudesse servir de mobilização popular ante ao governo.
                Finalizado, "Modo Livre" soa mesmo como a brevidade e densidade de um Carnaval, encarnando a primeira aventura de Ivan Lins em muitos aspectos: soando mais popular e mais íntimo do samba, nas novas parcerias nas composições, em uma gravadora com grandes ambições e em uma equipe que possui em sua figura planos a nível nacional. Como saldo do melhor álbum de Ivan desde então pode-se tirar além do excelente trabalhos de todos os músicos envolvidos, a qualidade das composições, que de acordo com o andamento do trabalho, criam um quadro de múltiplas interpretações, a serem analisadas desde o viés político de Lins até as situações pessoais, visto que é uma obra sempre objetivando a liberdade, em quaisquer cenários que se possam nela imaginar.

Avaliação:




Ficha Técnica:



Gravadora: RCA/Victor
Lançamento: 1974
Gênero: MPB e Samba

Faixas:

Lado A:



1)Rei do Carnaval Compositores:  Ivan Lins e Paulo César Pinheiro 2:31
2)Deixa Eu Dizer Compositores:  Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza 3:13
3)Avarandado Compositor: Caetano Veloso                                3:13
4)Tens (Calmaria) Compositores:  Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza  2:51
5)Não Tem Perdão Compositores:  Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza  4:54 

Lado B:



1 )Abre Alas           Compositores: Ivan Lins e Vitor Martins 3:11
2) Chega            Compositor: Ivan Lins 3:09
3) Espero                  Compositores:  Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza 2:24
4 )Essa Maré Compositores:  Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza 2:15
5) Desejo Compositores:  Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza 2:19
6) General da Banda/A Fonte Secou/Recordar Compositores:  Alcides, Satrio de Melo e Tancredo Silva/Marcléo, Mansuelo Menezes,Taufar Lauar/Adolfo Macedo, Aldacir Louro e Aloysio Marins 2:32

Créditos:



Vocais:     Ivan Lins
Vocais de Apoio: Aquiles Reis, Cynara, Cyva, Lucinha Lins, Miltinho, Otávio Bonfá, Regininha, Rui, Sidinho e Susana
Baixo: Luiz Alves
Contrabaixo: Wagner Santos (1)
Guitarra: Arthur Verocai(8) e Sidney Matos(1)
Viola: Ivan Lins
Flauta: Celso, Copinha e José Ferreira da Silva
Órgão: Ivan Lins, Laércio de Freitas e Wagner Tiso
Piano e Piano Elétrico: Ivan Lins
Bateria: João Cortez (1) e Robertinho Silva
Percussão: Chico Batera(2,3,5,6,7,9,11) e Robertinho Silva(3,4,5,6,8,9)
Pandeiro e Surdo: Gilberto D'Avila
Efeitos: Chico Batera
Gaita: Maurício Einhorn(1,6)
Fliscorne: Márcio Montarroyos(4)
Oboé: Kléber Veiga(4)
Corne inglês: Cocarelli(4)
Arranjador e regências: Arthur Verocai
Produtor: Raymundo Bittencourt
  • Gravado no Brasil, 1974

  • Vídeos:

Rei do Carnaval

Tens (Calmaria)


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