sábado, 22 de outubro de 2011

Electric Light Orchestra - A New World Record (1976)



                É perfeitamente cabível a afirmação de que quando temos um grupo já consolidado e merecidamente reconhecido no cenário mundial, isso lhe dá certo aval para experimentar algumas sonoridades que não necessariamente fariam se não tivessem obtido essa "primeira fama". A estritamente orquestra à luz elétrica de Roy Wood, Bev Bevan e Jeff Lynne, desde seu debut em 1972 havia incorporado muita pouca coisa ao som, além da "inovação" de unir instrumentos como violino e violoncelo aos tradicionais elétricos, produzindo a princípio nas palavras de Bev Bevan algo como um desastre acústico. Entradas e saídas marcariam a banda desde o início: a perda na queda de braço tirou Wood do grupo, deixando para Lynne os manetes para conduzir a banda, que em três anos incorporaria ao seu elenco de "empregados" Melvyn Gale, Mik Kaminski e Kelly Groucutt, para cumprir as ausências do cellista Mike Edwards (que se converteu ao budismo), do violinista Wilfred Gibson e do baixista Mike de Albuquerque (abandonando o grupo em 1974 para acompanhar a gravidez da esposa). A partir de 1975, no lançamento do seu até então álbum mais comercial, o "Face The Music", ajudado fortemente pelas harmonias construídas com Groucutt, os "filhos dos Beatles", (como Lennon já os chamou uma vez) tinham um desafio: o lançamento seguinte serviria para a banda como um rito de passagem à novas sonoridades que explodiriam a partir do ano de 1977.
                Para o novo trabalho, pela primeira vez em toda a curta carreira da ELO, não foram efetuadas nenhuma alteração  no seu lineup, que seguia com Lynne na guitarra e vocais, Bevan nas baquetas, Tandy nas teclas, Groucutt harmonizando e no baixo, Melvyn e McDowell nos cellos e Kaminski no violino. Essa nova formação, capitaneados por mais uma produção de Jeff Lynne, teriam como objetivo não desprender-se muito da sonoridade da primeira fase da banda, mesmo puxando mais do que no álbum anterior para o lado comercial. Uma curiosidade é que foi justamente na capa de "A New World Record" que apareceria pela primeira vez o logo criado por John Kosh (que já havia trabalhado com Rod Stewart, The Who, Badfinger e Beatles) que a banda carregaria por toda a sua trajetória. O estúdio que foi usado para a gravação seria novamente o Musiclands Studios, em Munique, também usado em 1975. Uma característica básica que dividiria os dois trabalhos seria que enquanto Face The Music trabalhava no rock progressivo e sinfônico, o atual seria mais voltado para o rock mais direto, intercalado com as baladas, e não perdendo a característica do trio de cordas.
                Dos cinco álbuns até então gravados, esse é o que fecha a sequência dos que possuem uma introdução instrumental (overture), no caso com "Tightrope", que ainda sim é um tanto puxada para o lado do rock sinfônico. A atmosfera de "Mission (A World Record)" cairia perfeitamente no lançamento de 1975, bem como no ramo das harmonias vocais de Lynne/Groucutt a sétima faixa, "Above The Clouds". O lado mais comercial do grupo, com faixas que espalharam mais admiradores ao redor do mundo, e que basicamente seguia a onda da disco music e do funk a um estilo bem particular ocorreu em "So Fine", as baladas "Telephone Line", que viraria "Sacreé Chanson" nos vocais de François, se tornaria o primeiro single-ouro da carreira, a sexta faixa "Livin' Thing", com uma introdução solo de Kaminski e a clássica forma de balada com um refrão bastante harmonizado por Jeff e Kelly, além da subestimada "Shangri-la", que chega a mencionar uma das paixões musicais de Lynne nos versos: "My Shangri-la has gonna away/fading like the Beatles on Hey Jude". "Rockaria", com seus vocais operísticos na introdução (cantados em alemão) executados em estúdio por Mary Thomas e ao vivo por Kelly é outra canção com a pegada mais rock, citando uma mulher apaixonada por música clássica e por seus ídolos Wagner, Beethoven, Pucini e Verdi, que encontra um rapaz que pretende lhe mostrar o rock'n'roll. Do Ya, escrita anos antes e já gravada por inúmeros artistas, com destaque para o guitarrista do KISS, Ace Frehley, foi escrita por Lynne em 71 e creditada em um compacto do embrião do ELO, o The Move, a letra remete a um cara que já sentiu e viveu as situações mais diversas possíveis, mas que nunca sentiu nada como a pretendente. Esse rock, com um riff marcante de guitarra, é junto com "Ma-Ma-Ma Belle" do terceiro álbum da Electric Light Orchestra, as maiores investidas até então do grupo no campo de agitar o público e ter seus riffs entoados pelos fãs.
                A gravação, ocorrida em julho de 76 resultou no lançamento da obra nos dias 11 e 12 de setembro do mesmo ano, primeiramente no Reino Unido e depois nos Estados Unidos e teve uma recepção muito favorável pelo público, com 5 milhões de discos vendidos no primeiro ano do álbum, empurrando-o para a sexta posição no Reino Unido e a quinta na Billboard 200 e lançando singles como "Telephone Line", "Do Ya" e "Livin' Thing" que alcançariam respectivamente 7, 13 e 24 posição nos charts do Tio Sam, elevando o grupo ao staff de um dos mais rentáveis grupos de rock do mundo. Lynne afirmou um novo patamar em suas composições, que vinham rapidamente à mente, processo esse que durou três ou quatro anos, momento que coincidiu com a época mais promissora dos hits que a banda possuiu. Enfim, o último passo rumo aos trabalhos que atingiriam públicos à nível mundial foi dado em grande estilo.

  • Avaliação:


  • Ficha Técnica:
Gravadora:Jet Records
Lançamento:1976
Gênero:Rock, Pop, Rock Sinfônico


  • Faixas:
A1) Tightrope    Compositor: Jeff Lynne5:03
A2) Telephone LineCompositor: Jeff Lynne4:38
A3) RockariaCompositor: Jeff Lynne3:12
A4) Mission (A World Record)Compositor: Jeff Lynne4:25
B1) So FineCompositor: Jeff Lynne3:54
B2) Livin' ThingCompositor: Jeff Lynne3:31
B3) Above The CloudsCompositor: Jeff Lynne2:16
B4) Do YaCompositor: Jeff Lynne3:43
B5) Shangri-LaCompositor: Jeff Lynne5:42


  • Créditos:
Vocais:Jeff Lynne
Vocais Operísticos: Mary Thomas (3)
Vocais de Apoio:   Bev Bevan, Jeff Lynne, Kelly Groucutt e Richard Tandy
Baixo:
Kelly Groucutt
Guitarra:Jeff Lynne e Richard Tandy
Violões:Jeff Lynne e Kelly Groucutt
Slide Guitar:Jeff Lynne
Bateria:Bev Bevan
Bateria eletrônica: Bev Bevan
Percussão: Bev Bevan, Jeff Lynne, Kelly Groucutt e Richard Tandy
Cellos:Melvyn Gale e Hugh McDowell
Piano:Richard Tandy
Piano Elétrico: Jeff Lynne e Richard Tandy
Sintetizadores:Richard Tandy
Piano de Cauda:Richard Tandy
Clavinete:Richard Tandy
Violino:Mik Kaminski
Arranjos:Jeff Lynne, Louis Clark e Richard Tandy
Engenheiros: Dick Plant, Duane Richards, John Richards e Mack
Produtor:Jeff Lynne

  • Gravado no Musiclands Studios, Munique, Alemanha, julho de 1976
 
  • Vídeos:
Rockaria


So Fine


Curta esse Post !

sábado, 1 de outubro de 2011

Marcos Valle - Previsão do Tempo (1973)



                Quando se pensa nesse incrível músico, a primeira lembrança é a primeira fase de sua carreira, quando flertava ainda com a bossa nova. Esse período, mais vivo até 1966, remonta belas canções como "Preciso aprender a ser só" e "Samba de Avião", que fizeram de Marcos Valle uma peça importante no cenário nacional. As transformações começariam no ano seguinte com a introdução de gêneros regionais nas faixas. A parceria com os futuros integrantes do Azymuth a partir de 1969 mudariam de vez sua carreira, o levando para os cenários menos explorados da música popular. Após alguns trabalhos juntos, surgiria no ano de 1973 um de seus registros memoráveis após a fase bossa, era o eclético e provocante "Previsão do Tempo".
                Essa grande obra começaria pela capa, que mostra um close de Marcos Valle dentro de uma piscina dando a crer que estivesse morto, dando brecha para várias interpretações, como a idéia do receio em relação à determinação do regime ditatorial brasileiro em impedir certas manifestações artísticas. A participação de José Roberto Bertrami (órgão e sintetizadores), Alex Malheiros no baixo e Ivan Conti na bateria foram um dos fatores determinantes para o resultado final do álbum, dada a sonoridade diferenciada que foi posta no álbum, como o baixo Rickenbacker 4001 e o mini moog de Zé Bertrami. A produção ficaria por Milton Miranda, auxiliado na coprodução pelo irmão de Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle, que também assina várias faixas com o irmão.
                O abre-alas do álbum é "Flamengo até Morrer", um sambinha com grande uso da cuíca e dos coros, que fala em sua letra da paixão da gigante torcida flamenguista com seu time (que o faz comer um prato a menos de comida para comprar os ingressos), citando desde ele até o presidente Médici como "flamenguistas até morrer". A resolução de problemas na equipe, em "parece que finalmente resolvemos o dilema, Dario e Dorval jogando juntos sem problemas", além de escalar a equipe em outros versos. A surpresa fica com o solo de guitarra que se dá no final da música. O samba é tão bom que faz até o vascaíno que vos escreve ouvir sem nenhum tormento. A sequência se dá com a faixa "Nem Paletó Nem Gravata", uma faixa bastante funkeada com o baixo de Alex Malheiros e o mini moog como protagonistas, sintonizando a letra ao antigo lema brasileiro de comodidade, um verdadeiro canto contra os padrões de formalidade da sociedade setentista. "Tira a Mão" seria um samba cheio de teclas falando dos falsos colegas. "Mentira", a quarta faixa do álbum, tem em suas teclas uma lembrança muito viva do estilo do pianista Sérgio Mendes, um samba não tão tradicional quanto à primeira música, e sim com variações psicodélicas, com extenso recurso dos teclados. Uma curiosidade é notar uma possível "Human Beatbox" que Valle reproduz na faixa, sem dúvida um pioneirismo para a época. Após a instrumental "Previsão do Tempo", única música composta unicamente por Marcos Valle, a música que segue (Mais que uma Valsa) é bem conduzida por um baixo marcando tempo, com cordas e teclas intercalando-se. O vocal nessa faixa beira ainda a técnica do falsete, evidenciando a capacidade do músico.  faixa beira ainda a técnica do falsete, evidenciando a capacidade do músico. O baião "Os Ossos do Barão", que é também música de abertura de novela global do mesmo ano é a faixa com mais pegada regional de todo álbum, e fala em sua letra dos artifícios utilizados por um empregado que cria riquezas durante a Revolução Industrial paulistana (que tem em posse todos os bens do barão, inclusive seus ossos) e que pelo fato de não ser nobre, indaga o valor da vida e do sorriso das pessoas, sondando-as com dinheiro que compraria até "o mundo inteiro". O trio de compositores Marcos Valle, Eumir Deodato e João Donato assinam duas músicas: "Não Tem Nada Não", com sua pitada de samba com rock e "Não Tem Nada Não pt 2", uma continuação do instrumental. "Samba Fatal" possui um poderoso sintetizador que dá atmosfera bem cinzenta para descrever as atitudes na vida de uma pessoa, como "Amanheceu entre estudar ou calar, fumar ou lutar, sonhar ou falar, cantar ou gritar". "Tiu-Ba-La-Quieba" seriam as frases que um indivíduo mal da cuca começou a falar, possui uma melodia que lembra em alguma coisa o reggae, promovido grande parte disso à bateria de Ivan Conti e as teclas de Zé Roberto, a faixa ainda marca a técnica de falsete no refrão. A música que fecha o álbum é a bossa "De Repente Moça Flor", com um vocal suave de Valle acompanhado pelo trio de músicos do Azymuth, que surpreenderiam ao final da música com uma sonoridade progressiva, pelo solo das teclas.
                As composições, em maioria da parceria dos irmãos Paulo Sérgio e Marcos compõem um álbum que estava muito a frente do seu tempo, não tendo paralelos na década mais rica da nossa música. Valle confirmou de vez seu talento como músico, a ponto de explorar-se tanto nas harmonias e técnicas vocais, quanto em faixas mais dispersas, como o baião da faixa sete, o funk e samba em tantas outras e resquícios de bossa nova, que fecham a obra. Outro destaque são as letras, que abordam temas corriqueiros na sociedade brasileira, como o futebol, a indisposição aos paradigmas do trabalho e o valor do dinheiro, contra a condição moral dos indivíduos, dos que se vendem por alguma coisa, ou os que oferecem para obter algo. "Previsão do Tempo" é ideal para todo aquele que se interesse pelo suprassumo da música brasileira, um trabalho aclamado à nível mundial que infelizmente é muito pouco conhecido em sua terra natal.


  • Avaliação:


  • Ficha Técnica
Gravadora:Odeon
Lançamento:1973
Gênero:Funk, Samba e Psicodélico

  • Faixas:
A1) Flamengo Até Morrer  Compositores: Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle          3:26
A2) Nem Paletó Nem Gravata Compositores: Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle          2:57
A3) Tira A MãoCompositores: Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle          2:44
A4) MentiraCompositores: Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle          3:41
A5) Previsão do Tempo Compositore: Marcos Valle3:33
A6) Mais Do Que Uma ValsaCompositores: Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle          2:47
B1) Os Ossos do BarãoCompositores: Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle          2:15
B2) Nao Tem Nada NãoCompositores: Eumir Deodato, João Donato e Marcos Valle3:08
B3) Nao Tem Nada Não pt 2Compositores: Eumir Deodato, João Donato e Marcos Valle  1:20
B4) Samba FatalCompositores: Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle          3:04
B5) Tiu-Ba-La-QuiebaCompositores: Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle          3:21
B6) De Repente Moça FlorCompositores: Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle          3:03


  • Créditos:
Vocais:Marcos Valle
Vocais de Apoio:Marcos Valle
Baixo:
Alex Malheiros
Guitarra:
Sérgio Hinds
Órgão e Sintetizadores:
José Roberto Bertrami
Piano Elétrico:Marcos Valle
Bateria:Ivan Conti
Arranjo:
José Roberto Bertrami(2,3,4,5,6,8,9,11,12), Marcos Valle(1,10) e Waltel Branco(7)
ProduçãoMilton Miranda


  • Vídeos:


Samba Fatal



Mais Do Que Valsa



Curta esse Post !