segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Neil Sedaka - Overnight Success (1975)



                "Durante os anos cinquenta e sessenta, eu era o rei dos doo-be-doos e tra-la-las". Essa foi a definição do homem sobre o próprio mito durante um show na sua Brooklin em 2010. Neil Sedaka mais do que ninguém sabia do que falava: essa época de sua carreira foi permeada por composições e gravações que estão até hoje no imaginário das pessoas, hits que desde "Oh! Carol" de 1959 e que de forma sucessiva iam se apresentando, como "Calender Girl", "Stairway To Heaven", "Little Devil" e a conhecidíssima "Happy Birthday Sweet Sixteen". Essa maré cheia teria ainda segundo o mesmo uma abrupta pausa a partir do advento da Beatlemania, que quase por uma década tragou os artistas que já estavam inseridos no cenário musical. A volta de Sedaka teria início com lançamentos sem muito sucesso comercial, em uma época que as grandes gravadoras e artistas não haviam ainda encontrado uma sonoridade certa para o desencarno da era dos Beatles. Os primeiros anos da sua nova fase o acréscimo ao setlist de novas composições como "I Am Song (Sing Me)", "Solitaire", "Love Will Keep Us Together" (do álbum de título irônico e profético: The Tra-la-la Days Are Over) e o maior sucesso de até então, do álbum de 1974, a número um das paradas "Laughter in The Rain". A partir de toda essa corrente de ascensão, e notando o novo desenho do cenário da música popular, Neil Sedaka fez do ano de 1975 um ano especial em sua carreira.
                O ano começaria especial já que sua faixa "Love Will Keep Us Together" tornou-se o número um das paradas na mão de Captain and Tenille. Outra dupla popular à época, o The Carpenters deixaria algumas aberturas de shows com Neil (o plano que obviamente daria errado já que era o mito grande demais para ofuscar a dupla, levando pouco tempo depois sua demissão sob argumento de estar "roubando o seu show"), mesmo assim, a faixa "Solitaire foi gravada pela dupla chegando ao top 20 e estabelecendo-o aos poucos no hall dos compositores. A produção de Overnight Success, título sugerido por Carol Sager (com nome "Hungry Years" e faixas extras nos EUA) assim como os álbuns anteriores, também ficou por conta de Sedaka, em dupla com o recém-chegado Robert Appère. Do mesmo modo, composições ficaram divididas na parceria de Neil com Howard Greenfield/Phil Cody e a gravadora responsável foi a mesma que o auxiliou na nova fase da carreira (na terra do Tio Sam): a Rocket Records. A participação de Elton John no álbum se deu com o dueto "Bad Blood", que viria a ser um estouro que colocaria Neil de volta à cena americana como compositor e intérprete. 
                A segunda fase da carreira estava a cada vez mais indo em direção ao mainstream, do pop que sempre que possível apelava às raízes do R&B e da música negra de forma geral, e esse lançamento tornou clara essa sua intenção. A característica básica das teclas como instrumento de destaque nas músicas foi mantida, e ocorreu o acréscimo da banda de apoio na participação, com uma bateria de Nigel Olsson (baterista de Elton John), belos solos de guitarra e linhas de baixo de Sklar. A obra têm muito êxito na escolha da ordem das faixas, que ora são bastante agitadas e com caráter disco, como a abertura "Crossroads" e "Baby Blue", com uma guitarra bastante “funkeada”, intercaladas por uma justa homenagem ao "pai da música americana" Stephen Foster, na canção "Stephen" e a balada mais forte nesse aspecto do álbum, "New York City Blues", que esmiúça uma NYC repleta de pobreza e medo, e que mesmo assim os jornais insistem em dizer que seja a maior cidade do país. O maior sucesso do álbum seria a provocativa Bad Blood, cantada junto com John. Essa faixa representou um definitiva ascendente na carreira de Neil, que definitivamente incorporou o espírito que a música popular possuía naqueles tempos. O primeiro lugar nas paradas só seria o primeiro passo do maior sucesso em números. "Goodman Goodbye" é sem dúvida a faixa mais incomum para um trabalho como esse: A música, composta por Cody/Sedaka tem o seu quê de ameaçador e já pôde ser interpretada como contra o antissemitismo já que Sedaka tinha ascendência judaica (versos como "Vá para o underground, se acha que o mundo perdeu o juízo/você deveria ficar com pessoas da própria espécie/Tem muita coragem em me chamar de irmão/Depois disso tudo não significamos nada um para o outro"). Essa faixa foge à marca de faixas de bom astral que o cantor costumava compor, e possui como instrumentos de destaque um solo de saxofone do arranjador Jim Horn e uma percussão rica com muitas quebras de intervalo. Tratando ainda da pobreza de espírito e física, temos "Hungry Years" com um Neil Sedaka indagando a saudade dos "anos de fome" e de sentimentos mais verdadeiros, que iam além do "tudo de querer for poder". "The Queen of 1964", composta da velha parceria Greenfield/Sedaka significa uma volta às tradições que o fez mundialmente conhecido. Tão surpresa quanto algumas músicas que despertaram um lado diferente de composição, estaria reservado à última das músicas desse álbum: uma releitura de "Breaking Up Is Hard To Do" que na introdução encara a primeira versão dos tempos dos "doo be doos" em um fade, que a partir dos 18 segundos mostra-se uma transformação incrível em que torna-se uma jazz-ballad com as teclas e as cordas trabalhando preenchendo os espaços da versão anterior. O vocal de Sedaka nessa faixa é simplesmente impecável, ratificando seu enorme talento não só como pianista, mas como cantor, letrista e compositor.
                A recepção do álbum ocorreu em dois momentos: a edição britânica, com nome Overnight Success e pelo selo Polydor e a prensagem norte americana com nome "The Hungry Years", pelo selo Rocket Records e extraídas as faixas Goodman Goodbye (possivelmente pelo teor) e a retrô "The Queen Of 1964" substituídas por "Your Favourite Entertainer" e "Tit for Tat". A edição americana chegou à décima sexta posição dos charts, o sucesso de Bad Blood o fez alcançar o primeiro lugar na Billboard Hot 100 por três semanas e receber o certificado de single ouro, a nova versão de "Breaking Up Is Hard To Do" alcançou oitavo lugar nas paradas americanas e primeiro lugar no chart Billboard Adult Contemporary. "The Queen Of 1964" chegou a quinta posição nas paradas britânicas e o cover do "Lonely Night (Angel Face)" dos antigos conhecidos Captain and Tenille chegaria a terceira posição, todos no intervalo entre 1975 e 1976. O sucesso estrondoso de algumas faixas ajudou a empurrar o álbum e a carreira de Neil Sedaka de novo para o rumo certo da música popular, em um trabalho que apesar de popular, passa longe de ser algo simplista ou generalizado, possuindo temas muito fortes como a pobreza e melodias bastante exploradas pelo talento de Neil. O ano de 1975 marcaria o lançamento do primeiro álbum de sucesso após o hiato dos pop charts, "Sedaka's Back". Logo, com um sucesso maior ainda nas paradas, poderíamos verdadeiramente intitular Overnight Success de "Sedaka's Definitely Back".

  • Avaliação:




  • Ficha Técnica:
Gravadora:
Polydor (Reino Unido) e Rocket Records (EUA)
Lançamento:1975
Gênero:Pop, Ballad


  • Faixas:
A1) Crossroads Compositores: Neil Sedaka e Phil Cody3:18
A2) Lonely Night (Angel Face)Compositor:   Neil Sedaka3:09
A3) StephenCompositores: Howard Greenfield e Neil Sedaka4:09
A4) Bad BloodCompositores: Neil Sedaka e Phil Cody3:00
A5) Goodman GoodbyeCompositores: Neil Sedaka e Phil Cody3:42
A6) Baby BlueCompositores: Howard Greenfield e Neil Sedaka 3:23
B1) The Queen Of 1964Compositores: Howard Greenfield e Neil Sedaka3:32
B2) New York City BluesCompositores: Neil Sedaka e Phil Cody4:08
B3) When You Were Lovin' MeCompositores: Neil Sedaka e Phil Cody4:21
B4) The Hungry YearsCompositores: Howard Greenfield e Neil Sedaka3:57
B5) Breaking Up Is Hard To Do (slow version)Compositores: Howard Greenfield e Neil Sedaka3:07


  • Créditos:
Vocais:Neil Sedaka
Vocais de Apoio:
Abigale Haness, Brian Russell, Brenda Russell, Donny Gerrard, Elton John e Neil Sedaka
Baixo:Leland Sklar
Guitarra:Dean Parks, Dick “Slyde” Hyde e Steve Cropper
Violões:Dean Parks
Bateria:Nigel Olsson
Piano, Mellotron:Neil Sedaka
Banjo:Dean Parks
Trompa:Chuck Findley e Jim Horn
Saxofone Tenor e Barítono:Jim Horn
Fliscorne:
Chuck Findley
Trombone:Dick “Slyde” Hyde
Percussão:Jim Kelter (2,6) e Milt Holland (2,3,5)
Timbales:
Jim Keltner (1) e Milt Holland (1)
Congas:Jim Keltner (1) e Milt Holland (1,8)
Percussão Sul-Americana:Jim Keltner (7) e Milt Holland (7)
Xilofone:Milt Holland (3)
Tambura e Shakes:Milt Holland (4)
Triângulo, Tamborim e Vibrafone:Milt Holland (8,9,10)
Arranjador:Artie Butler e Jim Horn
Engenheiro:Robert Appère
Produtor:Neil Sedaka e Robert Appère
  • Gravado no Clover Recording Studios, Los Angeles, Estados Unidos, Setembro de 1974.



  • Vídeos:
Stephen


When You Were Lovin Me



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