"Durante os
anos cinquenta e sessenta, eu era o rei dos doo-be-doos e tra-la-las".
Essa foi a definição do homem sobre o próprio mito durante um show na sua
Brooklin em 2010. Neil Sedaka mais do que ninguém sabia do que falava: essa
época de sua carreira foi permeada por composições e gravações que estão até
hoje no imaginário das pessoas, hits que desde "Oh! Carol" de 1959 e
que de forma sucessiva iam se apresentando, como "Calender Girl",
"Stairway To Heaven", "Little Devil" e a conhecidíssima
"Happy Birthday Sweet Sixteen". Essa maré cheia teria ainda segundo o
mesmo uma abrupta pausa a partir do advento da Beatlemania, que quase por uma
década tragou os artistas que já estavam inseridos no cenário musical. A volta
de Sedaka teria início com lançamentos sem muito sucesso comercial, em uma
época que as grandes gravadoras e artistas não haviam ainda encontrado uma
sonoridade certa para o desencarno da era dos Beatles. Os primeiros anos da sua
nova fase o acréscimo ao setlist de novas composições como "I Am Song
(Sing Me)", "Solitaire", "Love Will Keep Us Together"
(do álbum de título irônico e profético: The Tra-la-la Days Are Over) e o maior
sucesso de até então, do álbum de 1974, a número um das paradas "Laughter
in The Rain". A partir de toda essa corrente de ascensão, e notando o novo
desenho do cenário da música popular, Neil Sedaka fez do ano de 1975 um ano
especial em sua carreira.
O ano começaria
especial já que sua faixa "Love Will Keep Us Together" tornou-se o
número um das paradas na mão de Captain and Tenille. Outra dupla popular à
época, o The Carpenters deixaria algumas aberturas de shows com Neil (o plano
que obviamente daria errado já que era o mito grande demais para ofuscar a
dupla, levando pouco tempo depois sua demissão sob argumento de estar
"roubando o seu show"), mesmo assim, a faixa "Solitaire foi
gravada pela dupla chegando ao top 20 e estabelecendo-o aos poucos no hall dos
compositores. A produção de Overnight Success, título sugerido por Carol Sager
(com nome "Hungry Years" e faixas extras nos EUA) assim como os
álbuns anteriores, também ficou por conta de Sedaka, em dupla com o recém-chegado
Robert Appère. Do mesmo modo, composições ficaram divididas na parceria de Neil
com Howard Greenfield/Phil Cody e a gravadora responsável foi a mesma que o
auxiliou na nova fase da carreira (na terra do Tio Sam): a Rocket Records. A
participação de Elton John no álbum se deu com o dueto "Bad Blood",
que viria a ser um estouro que colocaria Neil de volta à cena americana como
compositor e intérprete.
A segunda fase da
carreira estava a cada vez mais indo em direção ao mainstream, do pop que
sempre que possível apelava às raízes do R&B e da música negra de forma
geral, e esse lançamento tornou clara essa sua intenção. A característica
básica das teclas como instrumento de destaque nas músicas foi mantida, e
ocorreu o acréscimo da banda de apoio na participação, com uma bateria de Nigel
Olsson (baterista de Elton John), belos solos de guitarra e linhas de baixo de
Sklar. A obra têm muito êxito na escolha da ordem das faixas, que ora são
bastante agitadas e com caráter disco, como a abertura "Crossroads" e
"Baby Blue", com uma guitarra bastante “funkeada”, intercaladas por
uma justa homenagem ao "pai da música americana" Stephen Foster, na
canção "Stephen" e a balada mais forte nesse aspecto do álbum,
"New York City Blues", que esmiúça uma NYC repleta de pobreza e medo,
e que mesmo assim os jornais insistem em dizer que seja a maior cidade do país.
O maior sucesso do álbum seria a provocativa Bad Blood, cantada junto com John.
Essa faixa representou um definitiva ascendente na carreira de Neil, que
definitivamente incorporou o espírito que a música popular possuía naqueles
tempos. O primeiro lugar nas paradas só seria o primeiro passo do maior sucesso
em números. "Goodman Goodbye" é sem dúvida a faixa mais incomum para
um trabalho como esse: A música, composta por Cody/Sedaka tem o seu quê de
ameaçador e já pôde ser interpretada como contra o antissemitismo já que Sedaka
tinha ascendência judaica (versos como "Vá para o underground, se acha que
o mundo perdeu o juízo/você deveria ficar com pessoas da própria espécie/Tem
muita coragem em me chamar de irmão/Depois disso tudo não significamos nada um
para o outro"). Essa faixa foge à marca de faixas de bom astral que o
cantor costumava compor, e possui como instrumentos de destaque um solo de
saxofone do arranjador Jim Horn e uma percussão rica com muitas quebras de
intervalo. Tratando ainda da pobreza de espírito e física, temos "Hungry
Years" com um Neil Sedaka indagando a saudade dos "anos de fome"
e de sentimentos mais verdadeiros, que iam além do "tudo de querer for
poder". "The Queen of 1964", composta da velha parceria
Greenfield/Sedaka significa uma volta às tradições que o fez mundialmente
conhecido. Tão surpresa quanto algumas músicas que despertaram um lado
diferente de composição, estaria reservado à última das músicas desse álbum:
uma releitura de "Breaking Up Is Hard To Do" que na introdução encara
a primeira versão dos tempos dos "doo be doos" em um fade, que a
partir dos 18 segundos mostra-se uma transformação incrível em que torna-se uma
jazz-ballad com as teclas e as cordas trabalhando preenchendo os espaços da
versão anterior. O vocal de Sedaka nessa faixa é simplesmente impecável,
ratificando seu enorme talento não só como pianista, mas como cantor, letrista
e compositor.
A recepção do
álbum ocorreu em dois momentos: a edição britânica, com nome Overnight Success
e pelo selo Polydor e a prensagem norte americana com nome "The Hungry
Years", pelo selo Rocket Records e extraídas as faixas Goodman Goodbye
(possivelmente pelo teor) e a retrô "The Queen Of 1964" substituídas
por "Your Favourite Entertainer" e "Tit for Tat". A edição
americana chegou à décima sexta posição dos charts, o sucesso de Bad Blood o
fez alcançar o primeiro lugar na Billboard Hot 100 por três semanas e receber o
certificado de single ouro, a nova versão de "Breaking Up Is Hard To
Do" alcançou oitavo lugar nas paradas americanas e primeiro lugar no chart
Billboard Adult Contemporary. "The Queen Of 1964" chegou a quinta
posição nas paradas britânicas e o cover do "Lonely Night (Angel
Face)" dos antigos conhecidos Captain and Tenille chegaria a terceira
posição, todos no intervalo entre 1975 e 1976. O sucesso estrondoso de algumas
faixas ajudou a empurrar o álbum e a carreira de Neil Sedaka de novo para o
rumo certo da música popular, em um trabalho que apesar de popular, passa longe
de ser algo simplista ou generalizado, possuindo temas muito fortes como a
pobreza e melodias bastante exploradas pelo talento de Neil. O ano de 1975
marcaria o lançamento do primeiro álbum de sucesso após o hiato dos pop charts,
"Sedaka's Back". Logo, com um sucesso maior ainda nas paradas,
poderíamos verdadeiramente intitular Overnight Success de "Sedaka's
Definitely Back".
- Avaliação:
- Ficha Técnica:
Gravadora: |
Polydor (Reino Unido) e Rocket Records (EUA)
|
Lançamento: | 1975 |
Gênero: | Pop, Ballad |
- Faixas:
A1) Crossroads | Compositores: Neil Sedaka e Phil Cody | 3:18 |
A2) Lonely Night (Angel Face) | Compositor: Neil Sedaka | 3:09 |
A3) Stephen | Compositores: Howard Greenfield e Neil Sedaka | 4:09 |
A4) Bad Blood | Compositores: Neil Sedaka e Phil Cody | 3:00 |
A5) Goodman Goodbye | Compositores: Neil Sedaka e Phil Cody | 3:42 |
A6) Baby Blue | Compositores: Howard Greenfield e Neil Sedaka | 3:23 |
B1) The Queen Of 1964 | Compositores: Howard Greenfield e Neil Sedaka | 3:32 |
B2) New York City Blues | Compositores: Neil Sedaka e Phil Cody | 4:08 |
B3) When You Were Lovin' Me | Compositores: Neil Sedaka e Phil Cody | 4:21 |
B4) The Hungry Years | Compositores: Howard Greenfield e Neil Sedaka | 3:57 |
B5) Breaking Up Is Hard To Do (slow version) | Compositores: Howard Greenfield e Neil Sedaka | 3:07 |
- Créditos:
Vocais: | Neil Sedaka |
Vocais de Apoio: |
Abigale Haness, Brian
Russell, Brenda Russell, Donny Gerrard, Elton John e Neil Sedaka
|
Baixo: | Leland Sklar |
Guitarra: | Dean Parks, Dick “Slyde” Hyde e Steve Cropper |
Violões: | Dean Parks |
Bateria: | Nigel Olsson |
Piano, Mellotron: | Neil Sedaka |
Banjo: | Dean Parks |
Trompa: | Chuck Findley e Jim Horn |
Saxofone Tenor e Barítono: | Jim Horn |
Fliscorne: |
Chuck Findley
|
Trombone: | Dick “Slyde” Hyde |
Percussão: | Jim Kelter (2,6) e Milt Holland (2,3,5) |
Timbales: |
Jim Keltner (1) e Milt
Holland (1)
|
Congas: | Jim Keltner (1) e Milt Holland (1,8) |
Percussão Sul-Americana: | Jim Keltner (7) e Milt Holland (7) |
Xilofone: | Milt Holland (3) |
Tambura e Shakes: | Milt Holland (4) |
Triângulo, Tamborim e Vibrafone: | Milt Holland (8,9,10) |
Arranjador: | Artie Butler e Jim Horn |
Engenheiro: | Robert Appère |
Produtor: | Neil Sedaka e Robert Appère |
- Gravado no Clover Recording Studios, Los Angeles, Estados Unidos, Setembro de 1974.
- Vídeos:
Stephen |
When You Were Lovin Me |
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