A ousadia de alguns compositores muitas vezes rompem barreiras e criam algo que fosse uma admiração por parte do grande público. Sem dúvida, tal virtude, dosada com a realidade que se é sentida no momento quando a obra vai a lançamento fazem de um trabalho um grande sucesso, justamente por trazer a arte da música à vida cotidiana de um país. Desde 1969, o compositor italiano Stefano Rosso compunha e participava de trabalhos de artistas como Claudio Baglioni e Gianni Morandi. A aposta da RCA Italiana estava feita. No ano de 1976, após diversas participações do músico no mainstream da música pop, a gravadora estava decidida a lançar seu primeiro trabalho.
Aquele que viria a ser chamado de "Una Storia Disonesta" começou ainda no ano de 1976, com a escolha dos músicos envolvidos que dariam vida as idéias de Stefano. Luciano Ciccaglioni, experiente arranjador italiano e figurinha certa em cada cinco álbuns lançados pelos maiores músicos do país a cada ano, estaria nesse ousado projeto. Além dele, deve-se destacar o não menos experiente Mike Fraser, Piero Ricci e o grupo vocal Baba Yaga, que colaborou em "Manù". A gravadora, que ofereceu um contrato de três anos, ainda firmaria uma parceria com o produtor Antonio Coggio. A capa do trabalho é algo que já chama uma primeira atenção ao público: a fotográfica captura apenas dos olhos de Stefano para cima, dando enfoque em seu chapéu de couro, que se encontra um boneco apunhalado pelas costas por uma faca em sua aba, com o verso da capa o resto da imagem, dos olhos para baixo, com o músico fumando um cigarro. Esse seria o primeiro sinal da maneira "stefanesca" de comportar sua visão. Uma curiosidade interessante é que o álbum seria comercializado em janeiro de 1977, mas no próprio trabalho ele é colocado como no ano anterior.
Sem dúvida, o método de composição de Rosso era bastante diferente de seus contemporâneos. Uma de suas ferramentas de construção era o uso do sarcasmo e da ironia, além de ter uma veia pulsante no lado da política, chegando a abordar o governo em algumas de suas faixas e situações; muitas canções autobiográficas, como sua estada no hospital no leito 26 após uma tonsilectomia em "Letto 26", que estava no compacto de 76 com "...Ci Siamo Ancora Noi". A faixa que abre o disco é a acústica "Giratondo". A irônica "La Banda Degli Zulù" ratifica a inteligência do compositor ao citar um grupo de músicos que são vistos com maus olhos e criticados por três pessoas, que ao final da canção, ficamos, a saber, que são essas um cafetão, um ladrão e um contrabandista. A faixa título e primeira do lado B traz toda a polêmica do trabalho. Tratava objetivamente dos desdobramentos da escolha do Estado a legalizar a maconha. Profético foram aos versos "e in canzonetta lui polemizzò così/che bello, due amici una chitarra e lo spinello". Termo spinello em português remete ao cigarro de maconha. A polêmica que Stefano fez repercutiu no público e tornou a tal história desonesta num sucesso. O país, também foi bem lembrado em "Il Circo", em uma metáfora, relacionando palácio, equilibrista e tudo mais com os acontecimentos do país. No toada das autobiográficas, o lado B seguiu com a tradicional "Pane e Latte" e a bela "Compleanno" que tratam respectivamente da família do músico e de seu nascimento e vida e talvez a mais grandiosa desse segmento do álbum, a música que encerra o trabalho, a bem arranjada "Anche Se Fosse Peggio", que reflete com a ironia habitual, todas as coisas que viu e passou, como "ladrões autodidatas, ministros sem pasta, compositores loucos". O segundo single estaria então por pegar as duas canções mais profundas desse trabalho: o hit "Una Storia Disonesta" e "Anche Se Fosse Peggio".
As lições que esse belo lançamento colocam é um tipo de música bem diferente do cenário da época. O Bluegrass e Folk de Rosso, com o extenso uso do finger picking dão um som bastante especial ao trabalho. Seu método de compor era vigoroso e destemido, tratando sempre de questões mundanas daquela Itália que chegava ao final dos anos 70 com bastante sarcasmo e ironia do ponto de vista popular. Stefano faria, em um trabalho, dois legados: triunfar com uma música rica em regionalidade e construir um método bastante diferente de se compor, servindo como influência a muitas gerações seguintes.
- Avaliação:

- Ficha Técnica:
Gravadora: | RCA Italiana |
Lançamento | 1976 |
Gênero: | Bluegrass, Folk e Regional |
- Faixas:
A1) Giratondo | Compositor: Stefano Rosso | 2:06 |
A2) La Banda Degli Zulù | Compositor: Stefano Rosso | 2:37 |
A3) Manù | Compositor: Stefano Rosso | 3:47 |
A4) Letto 26 | Compositor: Stefano Rosso | 3:27 |
A5) Non Gioco Più | Compositor: Stefano Rosso | 4:21 |
B1) Una Storia Disonesta | Compositor: Stefano Rosso | 2:44 |
B2) Il Circo | Compositor: Stefano Rosso | 3:55 |
B3) Basta Un'Ora Sola | Compositor: Stefano Rosso | 2:03 |
B4) Pane E Latte | Compositor: Stefano Rosso | 1:47 |
B5) Compleanno | Compositor: Stefano Rosso | 3:14 |
B6) Anche Se Fosse Peggio | Compositor: Stefano Rosso | 3:01 |
- Créditos:
Vocais: | Stefano Rosso |
Vocais de Apoio: | Grupo Baba Yaga (3) |
Violão: |
Luciano Ciccaglioni e Stefano Rosso
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Baixo: | Piero Ricci |
Guitarra: | Luciano Ciccaglioni |
Bateria: | Massimo Bozzi |
Piano, Piano Elétrico: |
Mike Fraser
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Espineta: |
Mike Fraser
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Percussão: |
Massimo Bozzi e Piero Ricci
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Gaita: | Luciano Ciccaglioni (11) |
Mandolim e Banjo | Luciano Ciccaglioni |
Malimba: | Luciano Ciccaglioni e Piero Ricci |
Violino: |
Tino Fornai
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Arranjos: | Luciano Ciccaglioni e Piero Ricci (1 a 3 e 5 a 11) e Piero Pintucci (4) |
Produtor: | Antonio Coggio |
- Vídeos:
Basta Un'Ora Sola |
Non Gioco Più |
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