segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

The Faces - A Nod Is as Good as a Wink... to a Blind Horse (1971)




A história de um dos grupos mais proeminentes e meteóricos da primeira metade da década de 70 é inseparável do enorme sucesso que o Small Faces obteve no Reino Unido na década anterior. O quarteto, então liderado por Steve Marriott, guitarrista e vocalista, e Ronnie Lane, baixista, alcançou com álbuns e singles o topo das paradas britânicas por algumas vezes. Egos inflamados, no entanto, acabaram gerando o fim da banda e a consequente saída de Marriott, que se juntou a Peter Frampton no grupo Humble Pie. Os membros remanescentes, Lane, Kenney Jones e Ian McLagan, procuraram formar uma nova banda e para tanto chamaram dois conhecidos integrantes do Jeff Beck Group, que por desavenças com o conceituado guitarrista foram expulsos do grupo. Seus nomes: Ronnie Wood, então baixista, e o vocalista Rod Stewart. Com isso, o ano era 1969 e estava formado não mais o Small Faces, e sim, somente o Faces. No ano de 1971, após dois albuns, os ventos apontariam para o sucesso comercial
Até então, o Faces havia lançado dois álbuns: First Step, de 1970 e com um resultado comercial tímido, não alcançando o top 100 da Billboard, e Long Play, lançado em fevereiro de 1971. A gravação do último álbum "Long Play" já demonstrava uma maturidade maior do grupo, onde destacam-se duas das faixas que passariam a compor o hall de suas melhores canções: "Bad'N'Ruin", composta pela dupla McLagan/Stewart; e "Richmond", do talentoso Ronnie Lane. Contudo, o maior sucesso do álbum foi a ambiciosa aposta no cover de Paul McCartney em "Maybe I'm Amazed". Os resultados chegariam com a vigésima nona posição no Top 100 da Billboard. As primeiras mudanças do exitoso trabalho em "Long Play" para "A Nod Is as Good as a Wink... to a Blind Horse" começam na produção, uma vez que este é o primeiro disco da banda produzido por Glyn Johns (que já havia produzido nada mais que "Who's Next" e "Led Zeppelin", para citar dois trabalhos anteriores). A segunda mudança ocorre nos estúdios de gravação, onde o trabalho anterior havia sido dividido sobretudo entre Morgan Sound Studio e Rolling Stones Mobile Studio, o trabalho atual seria gravado no Olympic Sound, ainda na cidade de Londres. O curioso fato que marcou de forma muito forte da história da banda foi o trabalho desempenhado pelo quarteto de instrumentistas do Faces como músicos de sessão nos trabalhos solos de Rod Stewart. Em dois deles, "Gasoline Alley" (1970) e "Every Picture Tells A Story" (1971), o sucesso comercial obtido pelo artista em carreira solo ultrapassou o obtido pela banda que ele acompanhava como vocalista. De certo modo, isso influenciava a cada vez mais um cenário onde os setlits do Faces cada vez mais assemelhavam-se a um show solo de Rod Stewart.
Sobre "A Nod" em si, o trabalho não difere profundamente do lançamento anterior no processo de composição, que envolve todos os músicos, exceto o baterista Kenney Jones. Há, ainda, a inclusão de um cover, trocando Paul McCartney por Chuck Berry, interpretando o clássico "Memphis Tennesse" com a roupagem característica do Faces: o slide guitar de Ron Wood duelando com as teclas de McLagan. Tudo isso acompanhado da cozinha Jones-Lane e a voz marcante de Rod Stewart, que intercala pelo menos os dois jams que ocorrem na faixa. Ronnie Lane assina sozinho duas faixas do álbum, que destoam da pegada dos Faces ou da carreira solo de Stewart e vão mais de encontro com o folk, que seria marca registrada do seu futuro grupo, o Slim Chance: "Last Orders Please" e uma das maiores canções da banda, a belíssima "Debris". Lane contribui ainda com a letra (em parceria com Ian McLagan) para a curiosíssima "You're So Rude", que, segundo Mac,  de fato era baseada em uma história real ocorrida com o próprio Ronnie com a sua primeira namorada. Ainda, Ronnie contribui, conjuntamente com Wood e Stewart com a balada "Love Lives Here". O lado mais visceral do grupo estaria reservado a quatro composições assinadas por Rod Stewart e Ronnie Wood, a abertura do Lado A, com "Miss Judy's Farm", se traduz como a fórmula ideal do Faces com McLagan solando no piano, Ronnie com os fraseados no baixo, a pulsante bateria de Kenney Jones, a guitarra elétrica distorcida e carregada de riffs de Ronnie Wood além dos vocais rasgados de Rod Stewart. A química seria repetida ainda no mesmo lado do disco, revelando o maior sucesso comercial do grupo, a faixa "Stay With Me", um verdadeiro pedido que ficaria marcado como uma das maiores canções dos anos 70 e seguramente do rock'n'roll. Ainda, o duo assina as duas últimas faixas do álbum, "Too Bad" e "That's All you Need", essa abusando dos talentos de Ronnie Wood.

A recepção de tal trabalho não poderia ter sido menor. Os Faces estavam definitivamente entre os grandes grupos da primeira metade da década de 1970, alcançando inclusive a sexta posição da Billboard Hot 100. Curiosamente, o ano de 1971 também traria o auge de uma parceria que durou durante toda a duração do grupo, que era os lancamentos concomitantes dos trabalhos solos de Rod Stewart com os álbuns dos Faces. Com o lançamento de "Every Picture Tells a Story", que também contou com participações especiais de Ian McLagan e Ronnie Wood, Stewart alcançou o topo da Billboard Hot 100 com seu hit "Maggie May", sendo elevado ao posto de maior intérprete do rock no momento. Tamanho sucesso acabou por, futuramente, enfraquecer os elos do grupo, primeiramente com a saída de Ronnie Lane, depois com a saída de Ronnie Wood, que às pressas substituíria Mick Taylor nos Stones, até a completa dissolução deste super grupo. O destino alçaria de fato Rod Stewart a sua bem sucedida carreira solo, levaria Ronnie Lane a trabalhar com seu grupo Slim Chance, alternando em trabalhos com Pete Townshend, galgaria o baterista Kenney Jones anos mais tarde a substituir Keith Moon no The Who e transformou Ian McLagan num requisitado musico de sessão. Assim, pode-se dizer que o rock soube aproveitar o máximo do potencial de cada um dos integrantes do meteórico The Faces.



  • Avaliação: 




  • Ficha Técnica:


Lançamento:
1971
Gravadora:  Warner Bros.
Gênero: Rock

  • Faixas:


1) Miss Judy's Farm         Compositores: Rod Stewart e Ronnie Wood 3:42
2) You're So Rude           Compositores: Ian MacLagan e Ronnie Lane  3:46
3) Love Lives Here          Compositores: Rod Stewart e Ronnie Lane3:09
4) Last Orders Please       Compositor: Ronnie Lane2:38
5) Stay With Me             Compositores: Rod Stewart e Ronnie Wood4:42
6) Debris   Compositor: Ronnie Lane             4:39
7) Memphis, Tennesse        Compositor: Chuck Berry5:31
8) Too Bad                  Compositores: Rod Stewart e Ronnie Wood3:16
9) That's All You NeedCompositores: Rod Stewart e Ronnie Wood5:06


  • Créditos:

Vocais:Rod Stewart e Ronnie Lane (2, 4, 6)
Vocais de apoio:Ian Maclagan, Ronnie Lane, Ronnie Wood
Baixo:Ronnie Lane
Guitarra:Ronnie Wood
Violão:Ronnie Lane e Ronnie Wood
Bateria:Kenney Jones
Teclados:Ian MacLagan
Piano:Ian MacLagan
Produção:Glyn Johns e The Faces

  • Gravado em Olympic Sound, Londres, Inglaterra



  • Vídeos: Miss Judy Farm 



  • Debris





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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Parthenon Huxley - Purgatory Falls (2001)



                Com carreira solo construída com muito esforço desde os anos finais da década de 80, destacou-se sempre pela voz rouca e pelo timbre todo particular de suas guitarras e violões. Com diferentes avaliações positivas desde a "estreia monumental" dada pela conceituada Rolling Stone em seu "Sunny Nights" e o prêmio de álbum do ano de 1995 pela “Audities Magazine”, o músico também acumulou críticas em alguns grupos que participou, como na ocasião do lançamento de "Veg" em 1995 - que a “Mojo Magazine” classificaria como "marvelous stuff", além de pelo grupo The Orchestra no qual foi produtor e um dos músicos mais relevantes na construção do trabalho "No Rewind". Em meio a tanto sucesso de crítica soando sempre entre o pop rock e o alternativo, uma tragédia acometeria Huxley e acabaria em muito por dar tônica e inspiração desde 1997 para o que viria a ser seu lançamento quatro anos depois: a morte de sua esposa Janet Heaney em decorrência de um câncer. Esses últimos acontecimentos fariam do projeto "Purgatory Falls" um verdadeiro trabalho de reconstrução pessoal e reconsideração musical.
                Com uma equipe mais recheada desde seu último lançamento (Deluxe, 1995), Hux contaria em adicional com um trabalho bem mais extenso de cordas, que resultaria nas relevantes participações do violinista Mik Kaminski e de Timothy Loo no violoncelo, com o adendo de Jim Jacobsen que ficou responsável pelas cordas, mixagens e parte da engenharia. Remanescente do trabalho anterior, Gordon Townsend continua com as baquetas, além de assinar o mellotron em uma faixa e contribuir grandemente com os vocais de apoio. Completariam o time em certas faixas o baterista Ric Menck e o baixista Dan Rothchild, que por parte supriria a ausência de seu antecessor Rob Miller (que aqui participa em duas faixas). Uma mudança relevante foi a troca de selo, saindo Black Olive e entrando Nineteen Eighteen Records.
                Com a proposta de um trabalho dinâmico, Huxley alterna com frequência a sonoridade do álbum, dentro principalmente do lado acústico (com uso do violão com a técnica do dedilhado) e seu lado mais pop rock (sem abdicar da distorção na guitarra). Como um tributo, a totalidade das letras abordam a visão do início ao fim do relacionamento: a entrada "4258", aborda, com muitas cordas e em uma versão acústica, o início de uma relação, tendo nela o primeiro uso da técnica de crossfade, que conduz para o hit da carreira de Parthenon - #1 nos download charts da Rolling Stone - "I Loved Everything", que soa bastante pop rock, com a primeira boa participação de Gordon nos vocais de apoio e a primeira mostra da técnica de Hux na guitarra. A sequência "Rubble" - "My Sweet Nothing" conta com o tema perda em comum (destacado nos versos "My livin' angel I saw you spread your wings" e "I once had something now it's a scar"), a musicalidade acústica e o uso de cordas. As duas relevantes diferenças que se notam é que em "My Sweet Nothing", Mik Kaminski contribui de forma elementar com uma bela introdução solo no violino e que no final da faixa com a entrada de baixo, guitarra e bateria, o álbum toma uma reviravolta para o pop rock, que seria confirmada pela sequência "Goldmine" e em menor intensidade - com uma letra mais sentimental e com mais distorção - "Red Eyeliner". "Steer Clear" trabalha com as memórias de Huxley sobre Janet ("cause there's another woman in my head") e é muito bem sucedida nas harmonias vocais e nos efeitos, enquanto "Offer You The World" encerra as batidas pop rock do álbum. "Belief" pode ser tida como a faixa acústica mais profunda do álbum: o belo arranjo de mellotron de Gordon Townsend, os vocais de Parthernon e a bela sequência de acordes encaixam perfeitamente com os versos de confissão de um relacionamento tragicamente encerrado (explicitados na sequência "when you leave a room, the lights go out, go out/I have never seen a life so true/that's why i put my belief in you"). "Chordothelord" trabalha com o experimentalismo (soando bastante Electric Light Orchestra), tendo além de um extenso trabalho de Kaminski, algumas vozes que podem ser reconhecidas como do próprio Huxley.
                Como intenção de pessoalidade e tributo - conhecer sua amada, descobrir sua doença, sentir a sensação de perdê-la e reconstituir a vida - o álbum consegue atingir plenamente seu objetivo. A mudança de sonoridade desde seu último álbum (à época, Deluxe, de 1995) traz um novo panorama para a carreira do músico, do pop rock e do lado acústico mais enraizado. O cinzento "Purgatory Falls" estaria então como uma página específica de sua carreira: um trabalho que torna muito difícil a separação de sua audição e do sentimento empregado pelo artista. Certa vez, Hux disse que pela ideia do trabalho, era importante modelá-lo de modo que funcionasse como um álbum. É mais que certo que a mensagem dada no trabalho fora passada, do drama pessoal do músico para qualquer um que escutasse a obra pela primeira vez (ou não)  - canalizando emoção, tristeza e alegria - sem que precisasse conhecer a história das composições. Huxley (re) começaria de forma triunfal: um álbum para ouvir-se completo e tirar próprias reflexões.


  • Avaliação: 




  • Ficha Técnica:
Lançamento:
2001
Gravadora:  Nineteen Eighteen Records
Gênero: Pop rock e rock


  • Faixas:
1) 4258  Compositor: Parthenon Huxley 2:52
2) I Loved Everything Compositor: Parthenon Huxley 3:18
3) Rubble Compositor: Parthenon Huxley 3:20
4) My Sweet Nothing Compositor: Parthenon Huxley 5:06
5) Goldmine Compositor: Parthenon Huxley 3:29
6) Red Eyerliner Compositor: Parthenon Huxley 3:39
7) Steer Clear Compositor: Parthenon Huxley 3:35
8) Offer You The World Compositor: Parthenon Huxley 2:58
9) Belief Compositor: Parthenon Huxley 3:14
10) Chordothelord Compositor: Parthenon Huxley 1:50


  • Créditos:
Vocal: Parthenon Huxley
Vocais de Apoio:  Dan Rothchild e Gordon Townsend
Baixo: Dan Rothchild e Rob Miller
Guitarra: Parthenon Huxley
Violão: Parthenon Huxley
Bateria: Gordon Townsend e Ric Menck
Teclados: Gordon Townsend
Mellotron: Gordon Townsend
Violino: Mik Kaminski
Violoncelo: Timothy Loo
Cordas: Jim Jacobsen
Engenheiros: C.J. DeVillar e Jim Jacobsen
Produção: Jim Jacobsen

  • Vídeos:



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